Aventura Vertical
Falar sobre impressões vividas nesta espectacular gruta implica falar um pouco sobre os seus antecedentes e sobre a espeleologia em si. A espeleologia é muito mais que um desporto, embora tenha também a sua componente desportiva. É investigação, e investigar é adquirir conhecimento. Dificilmente um simples desportista se propõe a passar tanto tempo debaixo da terra, a uma profundidade tão grande e em condições de temperatura e humidade quase extremas. Simplesmente há locais bem mais agradáveis para exibirem os seus dotes desportivos.
A exploração deste fabuloso lugar vai, ano após ano, aumentando de dificuldade, cada vez mais implica uma maior logística e que haja na equipa espeleólogos bem experientes. Trata-se de uma exploração iniciada no inicio da década de 80 por polacos e por eles abandonada 10 anos mais tarde. Hoje, já leva cerca de 30 anos de explorações sistemáticas, e isso explica o mérito dos seus 10km explorados.
Entre os anos de 1990 e 1991, o Grupo DAV de Frankfurt, interessa-se pela exploração desta gruta e inicia um novo ciclo de exploração.
Topografa aparentes zonas inexploradas até aos -665m e na expedição de 1994 descobre um novo ramo, a -106m: o Frankfurter System.
Os trabalhos de topografia seguem em bom ritmo e são criadas três zonas de bivaque para apoio aos exploradores, que em 2006 alcançam a marca dos -800m.
Atingida esta profundidade, os objectivos aumentam para a pretensão de transformar o enorme percurso da gruta numa travessia e criar uma base de dados que permita estudar o seu microclima e a sua génese.
A exploração passa então a ter a colaboração de espeleólogos de várias nacionalidades que, unidos pelo interesse comum da descoberta, dão o melhor de si, trazendo para Loferer as experiências de exploração dos seus países de origem.
Pessoalmente, vindo de um Pais como Portugal, que se situa no Sul da Europa e onde a média de temperaturas das grutas é de cerca de 14ºC, este aspecto é certamente o maior desafio.
A profundidade das zonas de exploração obriga a vários dias em regime de auto-suficiência, só dependemos de nós, porque em caso de algum problema inesperado, acima de nós não há céu nem estrelas, apenas rocha, várias centenas de metros.
Depois de se iniciar a descida até à profundidade pretendida, depois do grande desafio técnico de progressão; de vencer poços, meandros sinuosos e estreitezas que nos vão deixando marcas no corpo, chega-se ao bivaque onde a equipa pernoita nos seguintes cinco dias e cinco noites. Aí apenas se repousa depois de cada dia de trabalhos de exploração.
Planeia-se em cada dia a exploração que, só por si, implica uma progressão de várias horas. A exploração diz respeito a trabalhos de mapeamento da rede cavernicola, equipagens de troços de passagem, desobstruções, levantamento de dados de temperatura/ humidade, imagem de vídeo etc.
Para cada uma destas tarefas implica que cada espeleólogo transporte consigo muito equipamento técnico que, num ambiente de percurso sinuoso, o vai desgastando fisicamente quase a cada passo que dá.
Não podemos esconder que existe muito sofrimento físico e dureza psicológica para se enfrentar uma exploração com este nível de exigência, no entanto ela é amplamente compensada.
Num mundo onde o homem já chegou praticamente a todo o lado, o mundo subterrâneo constitui uma das suas ultimas fronteiras do conhecimento. Ao se descobrir e ao explorar novos espaços, o espeleólogo está a revelar um novo mundo, a abrir as fronteiras para novas portas do saber. Aqui se encontram numa espécie de “museu da profundidade do tempo”, vários legados científicos, diferente dos da superfície, porque evoluíram aqui durante milhares de anos, em condições muito específicas e únicas. Um verdadeiro cavernícola é aquele que já perdeu o representante à superfície.
Revelar e ir revelando este conhecimento é a maior compensação que a equipa pode ter: dar novos mundos ao mundo!
O Loferer Schacht é uma gruta muito dura tecnicamente mas fantástica, é uma experiência nova a cada ano que passa, a cada situação nova que surge. Para cada situação nova requer novo planeamento, em que o grande segredo é a confiança que cada um tem nos seus companheiros de exploração: aqui é o companheirismo que impera!
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