terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

A Gruta do Sono, Serra dos Pinheirinhos.

...os passos da descoberta de uma Jóia.

1ª Parte - A Gruta do Vento.

Na Serra dos Pinheirinhos havia sido detectado um pequeno buraco, pouco maior que um punho fechado, de onde vinha ar carregado de humidade. Várias vezes fui ao lugar para, nos dias frios, poder ver a condensação deste e tentar, frustrantemente abrir a entrada. Em quatro tentativas solitárias que fiz, deixei cair para dentro do buraco um telemóvel novinho, uma maceta, dois ponteiros e uma esferográfica.

A estreiteza e dureza da rocha aliados aos meios disponíveis na altura, pareciam tornar a desobstrução impossível, mas vai daí que quanto maior é a dificuldade maior é a vontade de a enfrentar.

Determinados a dar-lhe luta conseguimos, aproveitando duas diáclases que se encontravam, deslocar um enorme bloco rochoso e alargar a entrada. Ao fim de nove dias intensos entramos em mais um espaço subterrâneo virgem na Arrábida e recuperamos os objectos perdidos já havia dois anos!

Surpreendentemente a caverna não era grande, encontramo-nos perante uma pequena gruta fóssil com abatimentos colmatados por calcite. O ar que sentíamos à entrada era proveniente de espaços que, aparentemente, não eram humanamente possíveis de passar, pelo menos naquela altura.



2ª Parte - A Gruta do Sono.

A 20 de Novembro de 2004, depois de várias tentativas para descortinar a continuação da Gruta do Vento, tiramos a orientação dos estratos geológicos e da fracturação visível com a intenção de prospectar na superfície indícios do sistema cavernicola.

Começamos por seguir uma das diáclases responsáveis pela abertura da gruta. A uns 30m a sul com o auxílio de um pé de cabra que íamos espetando no chão, a certo momento, este enterrou-se no solo argiloso e de lá começou a sair ar!


Através de um buraco do raio de um dedo tivemos a certeza que tínhamos dado com uma gruta e a mim, em particular, encantava-me a forma como o tinhamos feito.
Com aquela ansiedade que só os espeleologos sabem, começamos a desobstruir o sítio e 3 horas depois já podíamos espreitar uma pequena sala que conquistamos logo a seguir.

Foi com alguma estupefacção que não vimos a continuação da sala, estava repleta de argila e por isso tentamos encontrar a corrente de ar e segui-la. No chão, num canto, encontramos dois fragmentos de cerâmica pré-histórica, ficamos apreensivos mas como estavam sós pensamos que podiam ser roladas da superfície. Pouco depois, também num canto, encontramos um fémur humano e aí desconfiamos que estávamos perante uma necrópole pré-histórica.

A deslocação de ar vinha do fundo da sala onde a argila quase tocava o tecto. Não tendo a certeza que se tratava de uma necrópole e, se assim fosse, o chão estaria certamente estratificado, limpamos a argila sem fazer buraco entre o chão e o tecto e ao fim de um dia, acedemos a uma espectacular sala concrecionada onde não me consegui conter e soltei um grito que já a algum tempo que estava preso!


Não podemos continuar a exploração como desejávamos, no dia seguinte confirmaríamos, com aparecimento de mais cerâmica e um crânio humano, presença pré-histórica na gruta. Cientes que nos cabe a nós espeleólogos a protecção do património subterrâneo, a nossa preocupação agora era como revelar a descoberta.

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