Perto de Sesimbra existe uma lapa conhecida por Lapa do Forte do Cavalo. Foi este o local que carinhosamente adoptamos para gruta escola, onde os alunos éramos nós próprios.
Um dia, algures entre Fevereiro e Março de 1999 enquanto treinávamos progressão em cabos, recebemos a visita de um dos donos do terreno que nos abordou sobre a autorização de ali estarmos. Feita uma exposição sobre os nossos propósitos o senhor pareceu ficar agradado e tivemos uma tarde de história, dos últimos 50 anos do sitio.
Entre várias histórias, contou-nos, que durante a revolução do 25 de Abril os fuzileiros tinham explorado a lapa, que num canto (apontando para o local) tinham deixado cordas e material de exploração, depois, o buraco fora tapado e era esse o motivo pela qual a lapa aparentava não ter qualquer continuação.
De repente para nós a lapa passou a ter outro interesse também, o de descobrir a sua continuação e dar-lhe estatuto de gruta. Começamos por perseguir os passos dos fuzileiros e depressa descobrimos que tudo não passava de uma fantasia, daquelas que todos os espeleólogos de vez quando tem de ouvir de outras pessoas e que por vezes se torna difícil explicar-mos que não é bem assim.
Não ficando satisfeitos com as primeiras conclusões, reparamos que junto a um canto havia um pequeno espaço entre o chão e o tecto de um estrato.
Começamos a limpar a argila e progredimos ao longo de alguns dias uns metros, a determinado momento, uma pancada com a pequena picareta que usávamos, produziu um som seco e oco. Olhei por cima do ombro do meu colega que, interrogado, puxava lentamente para si uma coisa arredondada.
Um dia, algures entre Fevereiro e Março de 1999 enquanto treinávamos progressão em cabos, recebemos a visita de um dos donos do terreno que nos abordou sobre a autorização de ali estarmos. Feita uma exposição sobre os nossos propósitos o senhor pareceu ficar agradado e tivemos uma tarde de história, dos últimos 50 anos do sitio.
Entre várias histórias, contou-nos, que durante a revolução do 25 de Abril os fuzileiros tinham explorado a lapa, que num canto (apontando para o local) tinham deixado cordas e material de exploração, depois, o buraco fora tapado e era esse o motivo pela qual a lapa aparentava não ter qualquer continuação.
De repente para nós a lapa passou a ter outro interesse também, o de descobrir a sua continuação e dar-lhe estatuto de gruta. Começamos por perseguir os passos dos fuzileiros e depressa descobrimos que tudo não passava de uma fantasia, daquelas que todos os espeleólogos de vez quando tem de ouvir de outras pessoas e que por vezes se torna difícil explicar-mos que não é bem assim.
Não ficando satisfeitos com as primeiras conclusões, reparamos que junto a um canto havia um pequeno espaço entre o chão e o tecto de um estrato.
Começamos a limpar a argila e progredimos ao longo de alguns dias uns metros, a determinado momento, uma pancada com a pequena picareta que usávamos, produziu um som seco e oco. Olhei por cima do ombro do meu colega que, interrogado, puxava lentamente para si uma coisa arredondada.
Tratava-se de um crânio humano!
Era a primeira vez que tinha contacto com ossos humanos no meio subterrâneo e isso teve em mim um efeito que ainda hoje tenho dificuldade em explica-lo.
Era a primeira vez que tinha contacto com ossos humanos no meio subterrâneo e isso teve em mim um efeito que ainda hoje tenho dificuldade em explica-lo.
Foi naquele dia que senti que as grutas são mesmo um museu da profundidade dos tempos, a responsabilidade de não o violentar e a necessidade de aprender para alem daquilo que pode não vir nos livros sobre espeleologia.
O Homem e o Mundo Subterrâneo
(por Michel Bouillon; descoberta do mundo subterrâneo, 1972)
(por Michel Bouillon; descoberta do mundo subterrâneo, 1972)
Se o espeleólogo moderno se surpreende, por vezes, pelo facto de não ser o primeiro visitante de uma caverna, é porque desde há muito tempo que o homem começou a habitar o mundo subterrâneo, por necessidade material e espiritual.
As grutas horizontais totalmente virgens são raras, pois sendo de fácil acesso, foram, desde sempre as mais frequentadas. Uma exploração pormenorizada permite descobrir a importância e a duração da ocupação dos lugares, bem como a antiguidade das marcas aí deixadas. Em geral sobrepõem-se épocas diferentes, da pré-história até aos nossos dias; o problema, então, complica-se, e é isto o que torna as investigações difíceis e as conclusões delicadas.
Por outro lado, a gruta visitada não teve sempre o mesmo aspecto como quando da passagem dos primeiros habitantes ou curiosos; até as vias de acesso às diversas galerias podem mudar.
O primeiro trabalho do espeleólogo será, portanto, descobrir as modificações que possam ter-se produzido, a fim de poder encontrar as passagens ocultas ou obstruídas, as quis levam, frequentemente, ao prolongamento da rede.
Um espeleólogo deveria saber reconhecer todos os traços deixados pelos homens, animais, insectos, bem assim como as transformações naturais ou artificiais de uma gruta.
A entrada de uma caverna pode ter sido obstruída e o explorador penetrará pela abóbada de um tecto abatido ou por qualquer galeria adjacente afastada da principal. Outras vezes, aquela pode ter ficado emparedada por uma barreira de estalagmites através do qual será preciso abrir passagem. Esta barreira, que teve origem numa fissura do tecto da galeria através da qual a água carregada de carbono pôde formar concreções, não se deve confundir com uma moldagem de calcite numa parede, contra a qual seria inútil qualquer esforço.
O espeleólogo pode ser surpreendido, após várias passagens extremamente apertadas, com um esqueleto inteiro de bisonte ou de um cavalo que lá chegaram por alguma entrada misteriosa.
A gruta parece imóvel, à escala humana e, contudo, está em constante movimento, em eterna transformação. As causas mais importantes são de origem natural: enchimentos, derrocadas, concreções, tremores de terra; outras são devidas ao facto de os homens aí terem exercido diversas actividades ao longo de milénios, sem contar com os enormes animais da pré-história que animaram as cavernas com a sua presença, e até nos nossos dias, uma fauna particular que habita ainda os mais sombrios recantos.
As grutas horizontais totalmente virgens são raras, pois sendo de fácil acesso, foram, desde sempre as mais frequentadas. Uma exploração pormenorizada permite descobrir a importância e a duração da ocupação dos lugares, bem como a antiguidade das marcas aí deixadas. Em geral sobrepõem-se épocas diferentes, da pré-história até aos nossos dias; o problema, então, complica-se, e é isto o que torna as investigações difíceis e as conclusões delicadas.
Por outro lado, a gruta visitada não teve sempre o mesmo aspecto como quando da passagem dos primeiros habitantes ou curiosos; até as vias de acesso às diversas galerias podem mudar.
O primeiro trabalho do espeleólogo será, portanto, descobrir as modificações que possam ter-se produzido, a fim de poder encontrar as passagens ocultas ou obstruídas, as quis levam, frequentemente, ao prolongamento da rede.
Um espeleólogo deveria saber reconhecer todos os traços deixados pelos homens, animais, insectos, bem assim como as transformações naturais ou artificiais de uma gruta.
A entrada de uma caverna pode ter sido obstruída e o explorador penetrará pela abóbada de um tecto abatido ou por qualquer galeria adjacente afastada da principal. Outras vezes, aquela pode ter ficado emparedada por uma barreira de estalagmites através do qual será preciso abrir passagem. Esta barreira, que teve origem numa fissura do tecto da galeria através da qual a água carregada de carbono pôde formar concreções, não se deve confundir com uma moldagem de calcite numa parede, contra a qual seria inútil qualquer esforço.
O espeleólogo pode ser surpreendido, após várias passagens extremamente apertadas, com um esqueleto inteiro de bisonte ou de um cavalo que lá chegaram por alguma entrada misteriosa.
A gruta parece imóvel, à escala humana e, contudo, está em constante movimento, em eterna transformação. As causas mais importantes são de origem natural: enchimentos, derrocadas, concreções, tremores de terra; outras são devidas ao facto de os homens aí terem exercido diversas actividades ao longo de milénios, sem contar com os enormes animais da pré-história que animaram as cavernas com a sua presença, e até nos nossos dias, uma fauna particular que habita ainda os mais sombrios recantos.
Parque da Pré-história.
…um local gratificante para o enriquecimento do conhecimento.
A 13 de Junho de 2008, aproveitando a estadia espeleológica que estávamos a desfrutar na região de Ariège (França), não perdemos a oportunidade para visitar o Parque da Pré-história, na zona de Niaux, e com isso tentar compreender melhor o comportamento humano pré-histórico.
Queremos mais.-)
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